A examinar a história política do mundo, incluindo obviamente aí a história de cada uma das guerras evitadas ou inevitavelmente travadas por quaisquer cidades, reinos e nações, a afirmação mais ridícula que um militar poderia proferir é seu horror à “politização das forças armadas.” Se política é guerra, realidade em função da qual forças armadas existem, separar homens formados para guerrear da ação política é destroçar o ser da própria política.
Mas eis que o senhor Marcos Sampaio Olsen, comandante da Marinha brasileira, repetiu esse truísmo imbecil com ares de superioridade intelectual, acrescentando ainda que cabe ao STF interpretar a Constituição, não competindo às Forças Armadas papel moderador algum. Diante de tamanha pobreza de espírito imbuída de paixão ao consenso artificialmente fabricado pela imprensa – outra instituição intrincada à ação política, apesar de uns vigaristas defenderem que exista “jornalista isento” –, resta-nos torcer com todas as nossas forças para que o país não afunde em caos ou guerra civil, quadros cuja pacificação dependeria das Forças Armadas, cujos comandantes decidiram se esconder debaixo da capa dos ministros do STF.
Neste cenário, por que eu deveria me espantar com a condecoração de José Guimarães, coadjuvante maior do flagrante delito mais caricato da desordem política nacional? Esse homem, que Lula escolheu como líder do governo na Câmara dos deputados, é o chefe do assessor que foi pego no aeroporto de Congonhas com 100 mil dólares escondidos na cueca – além de outros 209 mil reais dentro da mala de mão. Mas o caso prescreveu e a possibilidade de punição foi extinta, sabem como é, por falta de provas. Isso mesmo: para quem não sabia como havia terminado o episodio dos dólares na cueca, saibam que o protagonista e seu chefe foram ambos absolvidos por falta de provas. Afinal, que relação um punhado de dólares enfiados numa cueca podem ter com o erário nacional? Cada homem é livre para adotar a carteira que melhor lhe sirva, não é mesmo?