INSTITUTO TAVISTOCK

Tavistock Institute

Descrição
O Tavistock Institute of Human Relations é uma instituição britânica, sem fins lucrativos que aplica a ciência social a questões e problemas contemporâneos. Foi criado em 1946, quando se desenvolveu a partir Tavistock Clinic e foi formalmente estabelecido como uma entidade separada em setembro de 1947.
Fundação: 20 de setembro de 1947
Campos: Ciências sociais
Locais: Tabernacle Street, Londres
Natureza jurídica: Beneficência
Fundadores: Wilfred Bion, Elliott Jaques, John Rawlings Rees,

História
O instituto foi fundado em 1946, tendo a história inicial do Instituto Tavistock coincidindo com a da Clínica Tavistock porque muitos dos funcionários da Clínica trabalharam em novos projetos de larga escala durante a Segunda Guerra Mundial, e foi como resultado desse trabalho que o Instituto foi criado.
Durante a guerra, a equipe da Clínica Tavistock desempenhou papéis fundamentais na psiquiatria do exército britânico[1]. Trabalhando com colegas do Corpo Médico do Exército Real e do Exército Britânico, eles foram responsáveis por inovações como o War Office Selection Boards (WOSBs) e Unidades de Reassentamento Civil (CRUs), e também trabalharam na guerra psicológica.[2] [3] [4] [5] O grupo que se formou em torno dos WOSBs e CRUs ficou fascinado por este trabalho com grupos e organizações. Procuraram continuar a pesquisa neste campo no período pós guerra. Várias figuras influentes visitaram os WOSBs durante a guerra, então havia escopo para o trabalho de consultoria. Contudo, a equipe da Clínica também planejava se tornar parte do Serviço Nacional de Saúde (NHS) quando ela foi estabelecida. Entretanto, a equipe fora advertida de que tal consultoria e pesquisa não seria possível sob os auspícios do Serviço Nacional de Saúde.[6] Por causa disso, o Instituto Tavistock de Relações Humanas foi criado em 1947 para realizar pesquisas organizacionais enquanto a Clínica foi incorporada ao NHS.[7] A Fundação Rockefeller concedeu uma doação significativa que facilitou a criação do Instituto[7].
Nos primeiros anos do Instituto, a renda era derivada de bolsas de pesquisa, trabalho contratado e taxas para cursos.[8] Durante as décadas de 1950 e 1960, o Instituto realizou vários projetos de assinatura em colaboração com grandes empresas de manufatura, incluindo Unilever, Ahmedabad Manufacturing e Calico Printing Co., Shell, Bayer e Glacier Metals.[9][10] Eles também realizaram trabalhos para o National Coal Board. Particularmente o enfoque incluiu temas ligado à gestão, mulheres no local de trabalho e a adoção (ou rejeição) de novas tecnologias. Também projetos sobre a interação entre pessoas e tecnologia mais tarde ficaram conhecidos como a abordagem sociotécnica.[11]
Nos anos 1960 e 1970, o Instituto tinha um foco notável em organizações de saúde pública, como hospitais. Os estudos examinaram uma série de aspectos dos cuidados de saúde, desde a gestão de enfermaria e de centros cirúrgicos até à organização do pessoal de limpeza.[12]
Mais recentemente, o Iastituto conduziu trabalhos para a Comissão Europeia e órgãos governamentais britânicos.[12]
A história do Instituto foi marcada por um grupo de personalidades importantes da Tavistock Clinic, como Elliott Jaques, Henry Dicks, Leonard Browne, Ronald Hargreaves, John Rawlings Rees, Mary Luff e Wilfred Bion, tendo Tommy Wilson como primeiro presidente e dirigente. Outros nomes importantes que vieram a se juntar ao grupo são John D. Sutherland, John Bowlby, Eric Trist e Fred Emery. Além destes, Kurt Lewin, membro da Escola de Frankfurt nos Estados Unidos, foi uma influência importante nos trabalhos realizado em Tavistock através de suas pesquisas em psicologia social (de acordo com Eric Trist, que expressou admiração por Lewin em sua autobiografia).
Muitos destes membros fundadores do Tavistock Institute inseriram-se em outros espaços de grande influência. O brigadeiro John Rawlings Rees, por exemplo, tornou-se o primeiro presidente da World Federation for Mental Health, (literalmente, “Federação Mundial de Saúde Mental”).
Jock Sutherland tornou-se diretor no pós-guerra da Tavistock Clinic quando esta foi incorporada ao então recente Serviço Nacional de Saúde (National Health Service) britânico em 1946. Ronald Hargreaves tornou-se diretor da Organização Mundial de Saúde. Tommy Wilson tornou-se presidente do Tavistock Institute.[13]

Importância para a teoria psicanalítica
Muitos psicólogos e psicanalistas conhecidos passaram pelo Tavistock Institute ao longo dos anos, tornando-o conhecido como “ponto focal” na Inglaterra para a psicanálise e para as teorias psicodinâmicas de Sigmund Freud e seus seguidores. Outros indivíduos associados ao Instituto são Melanie Klein, Carl Gustav Jung, J. A. Hadfield, Beckett, Charles Rycroft, Wilfred Bion, e R. D. Laing.[1]
Atividades atuais
De acordo com seu site na internet, o Instituto dedica-se à educação, à pesquisa e a trabalhos de consultoria em ciências sociais e psicologia aplicada. O Instituto possui sua própria gráfica e editora, editando a revista de ciências sociais internacional Human Relations, além da revista Evaluation.
Oferece também cursos de pós-graduação.
Notas
1. ↑ TRIST, Eric L. (1997). The Social Engagement of Social Science: A Tavistock Anthology. Pennsylvania: University of Pennsylvania Press. 640 páginas
2. ↑ Crang, Jeremy A. (2000). The British Army and the People’s War, 1939-1945. New York: Manchester University Press
3. ↑ Linstrum, Erik (2016). Ruling Minds: Psychology in the British Empire. Harvard: Harvard University Press
4. ↑ Curle, Adam (1990). Tools for transformation: a personal study. [S.l.]: Hawthorn Press
5. ↑ Pick, Daniel (2012). The Pursuit of the Nazi Mind: Hitler, Hess, and the Analysts. [S.l.]: OUP Oxford
6. ↑ Dicks, H. V. (2014). Fifty Years of the Tavistock Clinic (Psychology Revivals). [S.l.]: Routledge
7. ↑Ir para:a b Trist, Erik (1990).«The Social Engagement Of Social Science». Tavistok. Consultado em 30 de agosto de 2018
8. ↑ Fraher, Amy Louise (2004). A History of Group Study and Psychodynamic Organizations. Londres: Free Association Books
9. ↑ Jones, Geoffrey (2005). Renewing Unilever: Transformation and Tradition. Oxford: Oxford University Press
10. ↑ Alford, C. Fred (1994). Group Psychology and Political Theory. New Haven: Yale Univ. Press
11. ↑ Baxter, Gordon;, Sommerville, Ian (7 de agosto de 2010). [doi:10.1016/j.intcom.2010.07.003 «Socio-technical systems: From design methods to systems engineering»] Verifique valor |url= (ajuda). Interacting with Computers, v.23, n.1, p. 4–17. Consultado em 30 de agosto de 2018
12. ↑ Ir para:a b Tavistock Institute of Human Relations Archives. Londres: Wellcome Library.
13. ↑ Outros aspectos da história do Instituto pode ser encontrada em The Social Engagement of Social Science: A Tavistock Anthology, publicado pela Universidade da Pensilvania, em três volumes, entre os anos de 1990 e 1997.

Comissão Trilateral
Clube de Roma
Fundação Rockefeller
Council on Foreign Relations
RAND Corporation

Caos e Teoria Social: a história do Instituto Tavistock.
Por Rogério Mattos – 25/03/2018

Breve história do instituto de engenharia social do condado de Sussex, Inglaterra, responsável pela elaboração de determinantes padrões de manipulação social através da mídia, desde o Radio Research Project, liderado por Theodor Adorno e a Escola de Frankfurt, até a criação do conceito de Contracultura, em pleno festival de Woodstock, com a distribuição massiva, protegida por agentes de Estado, de pílulas de LSD. A famosa música Lucy in the Sky with Diamonds (LSD), foi um dos subprodutos desse projeto. Conhecer Tavistock é conhecer as mais intimas formatações dos programas televisivos e midiáticos atuais, a partir de seus padrões de atuação mais amplos, que dinamita boa parte das comparações “mídia brasileira versus mídia estrangeira”. A engenharia social é anterior ao conchavo civil-midiático com o grupo Time-Life, no Brasil, e passa pela criação de figuras como a do Mickey Mouse, até a de mitos sacrossantos (hoje nem tanto mais) como Bill Gates.

Acredito que para a maioria das pessoas que pelo menos aprenderam a tarefa básica de checar suas fontes de informação, problematizando sua origem, seu conteúdo e os objetivos das mensagens delegadas ao nosso entendimento, não será tarefa difícil interpretar as palavras que seguem nesse texto. A nossa vida física é corolário de nossa atitude mental, portanto o cidadão médio, muitas vezes embrutecido não tanto pela diversidade de fontes de conhecimento, mas pela multiplicidade de informações não explicadas satisfatoriamente, pereça ante posturas inadequadas frente à vida, gerando se não a infantilidade em corpos adultos, sem dúvida as tristes cenas de depressão, niilismo e descaso perante a existência. Tal montante de desinformação é diretamente proporcional às altas taxas de suicídio nas metrópoles dos países considerados mais desenvolvidos e à imbecilidade e ao escapismo das massas.
Nos anos oitenta veio a baila um livro chamado A Conspiração Aquariana (FERGUSON, 2006), com um título em inglês sugestivamente diferente, The Changing Images of Man. A autora, procurando movimentos inovadores de transformação da sociedade humana, acabou percebendo um vínculo invisível entre os mais diferentes estratos sociais, os quais às vezes acabavam se comunicando apenas por sinais sutis, sem ao menos perceber que estavam interconectados. “Sim, essa é uma conspiração!”, clamou a jovem escritora. Seria uma conspiração do bem, holística, impregnada em cada ângulo, o mais estreito, de uma nova sociedade que surgia. Apolítico seria também esse movimento, podendo influenciar nos EUA tanto a republicanos como a democratas.
Tal revolução silenciosa começou a ser feita pelos jovens da New Age, os “filhos da flor” e toda denominação a mais que pode ser dada a geração que vivenciou a contracultura. Os baluartes dessa época, assim como seus filhos, trazendo em si todo o desejo de transformação da geração que lutou contra a guerra do Vietnã, pelo amor livre, etc., são hoje os que compõem os quadros dos partidos verdes espalhados pelo mundo, das organizações filantrópicas para o bem estar da humanidade. Dos globalistas, enfim.
Com certeza, na América Latina tivemos tentativas de nos fazermos “filhos da flor”. Mas tentativas apenas. Fora o contingente que simplesmente por serem drogados se denominavam hippies, os anos de chumbo das ditaduras militares espalhadas pelo continente dispersaram a unidade requerida para se criar um movimento como esses. Não usamos, aqui, como armas principais, charutos feitos com erva, ou mecanicamente promovemos o “desbunde”. Isso foi tarefa para nosso pequeno clube de intelectuais “iluminados” de classe-média, na esteira dos hippies, a partir dos anos oitenta e com a redemocratização do país. Durante os duros anos que sucederam ao golpe de Estado militar, a briga no Brasil foi feia, sem dar margem a devaneios.
As drogas sintéticas e a contra-revolução da CIA
Daniel Estulin demonstrou à exaustão, com argumentos e provas abundantes, os vínculos entre a CIA, Instituo Tavistock e a Escola de Frankfurt, na criação do conceito de contracultura.
Robert Santelli, em seu libro, Aquarius Rising, escreveu: “O LSD circulava em abundância em Monterey. Davam-se tabletes de “Púrpura de Monterey” (uma substância similar ao LSD chamada também Bruma Púrpura) literalmente a qualquer um que quisesse experimentar um pouco”. Os dois personagens responsáveis pela distribuição em Coco Beach, Florida, se chamavam Peter Goodrich, e o legendario agente a soldo da CIA cujo nome chave era Coiote. (ESTULIN, 2001: 140)
Mais adiante lembra o autor de um aviso dado por um dos organizadores de Woodstock, Wavy Gravy (agente da conhecida operação MK-ULTRA), e noticiado pelo New York Times em 17 de agosto daquele ano de 1969: “Esta noite, um empregado do festival fez uma advertência no palco que se estava distribuindo ‘ácido mal fabricado’. Disse: ‘Vocês não estão tomando ácido mal fabricado. Vocês não vão morrer. […] Se vocês estão pensando que estão tomando veneno, não é verdade. Mas se estão preocupados, tomem só meia pastilha’”.
A fórmula que explica tamanha flexibilização nos costumes é a seguinte. Em Woodstock, por exemplo, quem fazia a segurança do festival era uma comuna de nome Hog Farm, conhecida pelo envolvimento com tráfico de entorpecentes. Essa comuna, como não poderia deixar de ser, era vigiada por agentes encobertos da CIA e FBI. No entanto, a infiltração de agentes como Peter Goodrich, o Coiote, permitia a entrada massiva das drogas produzidas nos laboratórios subordinados aos grandes institutos de engenharia social, como Tavistock – apoiado por antropólogos, psicólogos e cientistas sociais. De fato, o Festival de Woodstock foi o primeiro experimento massivo de lavagem cerebral através de alucinógenos clinicamente fabricados.
Mais tarde, se deu a criação da rede televisiva MTV, também baseada nos estudos da Escola de Frankfurt e Tavistock com o fim de promover uma guerra silenciosa, matando não os corpos, mas a própria personalidade das pessoas. Qual é a lógica e em que se baseia o estudo que inspirou a criação da MTV? Estudos psiquiátricos comprovavam que determinadas imagens, mas principalmente sons, ficavam impregnados na psique de jovens entre 15 e 25 anos, repercutindo vida a fora. Quando os baby boomers da contracultura ouviam, já na fase adulta, as músicas de sua adolescência, eram levados imediatamente às mesma sensações daqueles dias nos quais experimentaram a mistura de drogas e músicas estridentes. Essa modalidade de catarse espontânea, detectada pelos cientistas de Tavistock e provocada pelas rádios de músicas “clássicas” e pela programação televisiva, levava as cobaias do experimento massivo de LSD à mesma faixa mental de alienação provocada quando de sua juventude.
As “imagens cambiantes do homem” (do livro acima citado), LSD e baby boom (contingente de jovens com a programação mental adulterada através da cultura de massas do pós-guerra) guardam a mesma relação com a formatação da programação televisiva, alienação e controle mental. Quando se formata um programa jornalístico na TV, por exemplo, o princípio que se leva a cabo é o da euforia provocada por psicotrópicos, “the changing images of man”. Com notícias curtas e impactantes, geralmente com duração de trinta segundos a um minuto (um minuto e meio se a notícia é realmente importante), trazendo flashes de entrevistas (entrevistas que duram por vezes trinta minutos, uma hora ou mais) e depoimentos que, sob o manto da imparcialidade, confundem o espectador muito mais do que informam (pelo tempo curto e a fragmentação do conteúdo, com falas que acabam se chocando em vez de se contraporem), provocam uma euforia passageira em quem assiste e uma depressão que a sucede, dada a impossibilidade de o homem mais firme intelectualmente conseguir firmar uma opinião que seja em relação ao conteúdo assistido.
Nos EUA, diz o autor que trouxe à luz os métodos utilizados pelo instituto localizado no condado de Sussex, Inglaterra, geralmente as imagens terrificantes expostas pela mídia é contrabalanceada com a imagem do “super-presidente” que irá salvar a nação do caos. No Brasil, como não temos mais figuras como a do “caçador de marajás” ou a do “pai do Real”, a roupa de super-homem geralmente é vestida por analistas financeiros e demais agentes do mercado, assim como, atualmente, pela oposição janista cujo lema é a vassoura anti-corrupção, a qual no passado nos levou ao golpe de 64. Tal esvaziamento da política associando-a a tudo o que há de mal e perverso no mundo tem um só objetivo: enfraquecer a democracia corrente, dos políticos escolhidos pela população e da dialética desta com aqueles, e legitimar por outro lado o discurso produzido pelo “deus mercado” (produtor da crise financeira internacional) e seus analistas e especialistas, como também fortalecer os homens públicos porta-vozes da mesma ideologia, mas cujo poder está em franco declínio no país.
Walt Disney e a publicidade
Falo sobre drogas e corrupção, mas, sobretudo, de tirania e limitação das liberdades democráticas. De nada inútil se falamos de Wall Disney e de publicidade. E assim veremos aonde se encontra o êxtase produzido pelas “imagens cambiantes”, pelo LSD virtual produzido pela programação televisiva.
Os anúncios publicitários carregados de imagens repletas de valores que não guardam relação com o produto podem nos afastar dos mesmos valores que estão explorando, nos confundindo acerca de como haveremos de alcançar tais valores, e abrir a porta à desesperança, ao ressentimento e a apatia.
Como os produtos não proporcionam a recompensa psíquica que prometiam as imagens do anúncio, ficamos em dúvida se haverá algo que a proporcione. Se continuarmos com essa dúvida, terminaremos nos deprimindo e vendo quase todos os produtos rodeados por um fundo negro, o negativo fotográfico de seu antigo resplendor, o fundo negro das promessas não cumpridas. (ESTULIN, 2011: 217)
Depois de sermos tragados para um mundo onde subjaz soberano o reino da degradação humana, repleto de guerras, corrupção, intrigas e mentiras invencíveis, somos levados ao mundo mítico dos sonhos, das imagens arquetípicas baseadas no estudo do inconsciente coletivo. Mergulhamos em tal universo, sem darmos conta da estupefação causada pela miséria da condição humana, delegada pelas mensagens anteriores dos jornalões, firmemente controlados pelas elites financeiras e intelectuais de nossos países. Automaticamente – sem nunca ter uma pausa para procurar nos darmos conta do que está acontecendo nesse mundo paralelo no qual ora viajamos – passamos a associar como a única saída à nossa derrocada final enquanto seres humanos as telas repletas de fantasias dos anúncios publicitários. Semelhante lógica também se aplica quando assistimos ao outro pilar do embrutecimento cultural das massas: as novelas televisivas e suas tramas de perfídia, assassinato e luxúria.
Porém, “o fundo negro das promessas não cumpridas” não se estabelece simplesmente levando em conta o contraste que até aqui analisamos. Numa análise invertida (pois não devemos levar em conta apenas as classes ou as pessoas que chegam a aspirar realizar sua encarnação como pessoas em algum ideal publicitário), os próprios anúncios se tornam a fonte de angústia. Ao irmos tomar uma água ou fazer outra tarefa qualquer durante o intervalo, e subitamente nos darmos conta da realidade em que vivemos, financeira e ontologicamente (nesse sentido, naquelas pessoas que cumprem o ideal propagado e olham ao redor e se sentem profundamente insatisfeitas ou vazias). Daí aparece o jornalão ou a novela aguada como fonte de fuga da realidade. Os amantes das novelas encarnam nos personagens de sua admiração e passam a viver uma vida paralela; os interessados no noticiário encarnam a sabedoria dos apresentadores e repórteres, tão desprovida de conteúdo significativo quanto a densidade psicológica de um protagonista de novela.
Na verdade, há um processo dialético onde as pessoas criam correspondências entre seus ideais de produtos a serem consumidos e os ideais sócio-políticos ou afetivos a que aspiram, seja no jornal ou nas novelas. Nesse sentido, a programação “editada” – os programas que ora analisamos – se complementam com os anúncios publicitários, tornando-os todos, no fim, mera publicidade, ou seja, promessas. Tudo isso sob um pano de fundo tenebroso onde figura a degradação do ser humano no palco do mundo e a degradação do ser enquanto pessoa, ao simplesmente reagir com dor ou indiferença à frustrada realização dos desejos mercadológicos.
As crianças saudáveis do Clube do Mickey são órfãs de Francis Galton? No alto, três tempos de uma mesma história.
Aqui entra Mickey Mouse e a substituição da suástica pelas orelhas de rato. Mas, como assim? Como ligar um personagem tão simpático a um símbolo extremamente repugnante? Simples, com uma palavra bem pouco complexa: paperclip. Ou seja, a Operação Paperclip, de cooptação de elementos nazistas pelo governo-norte americano durante o pós-guerra.
Tal operação não é somente aquela que ficou conhecida pela contratação de nazistas para ajudar no programa atômico norte-americano. Sabedores dos conflitos que naquele contexto geopolítico iria se travar entre EUA e URSS, os artífices da política em Washington contrataram desde especialistas em tecnologia de armas nucleares a médicos, especialistas em guerras psicológicas nazistas (junto com a organização Gehlen), espias, assassinos e sabotadores.
Segundo Estulin, as provas são fundamentalmente circunstanciais, mas podem ser encontradas na seção Captured German Documents dos Arquivos Nacionais norte-americanos e serem comparadas com memórias e biografias dos anos da guerra e do pós-guerra. As memórias de Wulff, astrólogo de Himmler, diz ter os nazistas o desejo de criar um programa dentro do Reich que reproduzisse o estado mental de um soldado japonês, “um ser humano ávido e desejoso de arriscar a vida por seu país sem fazer perguntas” (ESTULIN, 2011: 67), e do soldado comunista chinês, “capaz de lançar-se sem pensar rumo a uma morte segura” (ESTULIN, 2011: 67). Os cientistas nazis, entre eles Friedrich Hoffmann, um químico nazista que assessorou a CIA no uso de substâncias psicotrópicas de lavagem de cérebro, estiveram trabalhando em programas de controle mental com militares e a CIA.
Hitler e Mickey Mouse: nada poderia ser mais coincidente. Assim conta Lonnie Wolfe, em artigo para a revista New Federalist, falando sobre o Mickey Mouse Club:
Cada criança, em sua casa, era “doutrinado” com um ritual de iniciação na televisão, e instado a cantarolar ao mesmo tempo canções cuja letra ia aparecendo na tela e a repetir coisas que ia indicando o chefe do grupo na televisão. Tudo fazia com suas “orelhas de rato” postas, que estavam desenhadas para serem identificadas com a figura animal de Mickey Mouse. Ao final do programa, o líder do grupo, um macho adulto jovem, pronunciava um sermão que era reforçado pelos Mouseketeers presentes no palco. Fazia-se tudo isso enquanto as crianças do estúdio e as que estavam em casa colocavam as orelhas e faziam a “saudação ao clube”. Quantas pessoas são conscientes de que cada vez que diziam a saudação estavam aceitando uma nova religião, semi-pagã, e um deus novo, o rato? […]
[Em outra época e em outro país europeu] outra geração de crianças recebeu uma série de valores de forma organizada de pessoas que não eram seus pais. A Juventude Hitlerista da Alemanha nazi. Eles também lhes diziam para não ouvir seus pais e que fossem Bons patriotas, que fossem educados e que se comportassem bem (WOLF, 2007).
Continua Estulin: “o truque radicava em fazer desaparecer os nazis, mas não seus ideais. O Estado e os valores nazis, mas sem a bagagem nazi. Mickey Mouse e Hiltler. Compreende o paralelismo?”(ESTULIN, 2011: 168).
A lógica que permeia os desenhos da Disney são os mesmos de nossa tradição televisiva. Geralmente personagens muito bons ao lado de outros muito maus (ou seja, a caracterização das “peças” televisivas se faz através dos contrastes mais óbvios) em meio a um conflito que nunca irá se resolver pela “fagulha divina da razão humana”. Em todos os desenhos da Disney sempre aparece uma espécie de deus ex maquina, geralmente uma entidade sobrenatural (uma fada gorda ou um monstro simpático, por exemplo) para resolver os conflitos sem qualquer intervenção humana. Tal subordinação da razão humana e sua capacidade para resolver conflitos a entidades sobrenaturais, vinculada a uma profunda carga emotiva exposta nesses desenhos, faz o intelecto das crianças permanecerem intactos naquela idade, sem ao menos começarem a desenvolver seu raciocínio lógico – o mais elementar que seja. Já a carga emotiva, principalmente, envolve os adultos naquelas tramas, fazendo-os também regressarem sua memória, porém sem o trabalho da razão. Nesse caso, toda a carga emotiva de nossos conteúdos mnemônicos jaz soberana em nosso intelecto, transformando-nos também em crianças – só que não fascinadas pelas resoluções mirabolantes dos dramas, como ficam os pequenos. Tornamo-nos simplesmente adultos chorões, infantilizados.
Porém, as novelas, com seus finais felizes, servem exatamente para isso: nos deixar mais e mais abobalhados. A questão atual dos autores de colocarem um contexto social em seus enredos deturpa ainda mais a finalidade de seu produto, a qual poderia ser verdadeiramente a educação das massas. Ambientado nos contrastes simplórios: os ricos de um lado e toda uma vida de sonho; os pobres do lado, às vezes injustiçados como cinderelas, nivela por baixo a capacidade intelectiva da população. A evasão dos problemas fundamentais de nossa existência enquanto cidadãos brasileiros, a da ascensão da pobreza por meio de oportunidades reais de trabalho, a subordinação de nosso país a interesses outros, como o das finanças internacionais, os objetivos do ensino escolar e superior, etc., são literalmente olvidados em favor de questões tais como “intrigas palacianas”, ou seja, ricos dando golpes em ricos ou pobres geralmente sofrendo com problemas no amor ou de injustiças realizadas por alguma “tia má”.
Os meios de desinformação, através do oligopólio de nossa mídia dominada pelo baronato ao estilo imperial, são abundantes. Como Alexander Hamilton tremeria ao ver a farra do sistema financeiro num país como os EUA o qual não possui nem ao menos um banco nacional e público, com certeza Dias Gomes tremeria ao ver seu teatro, o qual também transformou em novela, num meio claro de idiotização das massas.
Os heróis da mídia também são mutáveis como as “imagens cambiantes do homem”. Ora, numa campanha eleitoral, vemos as propostas ou (caso não as tenha) promessas dos candidatos. O cidadão identificado com um político ou partido se sentirá num mundo de sonho que pode até ser realizado, como nas campanhas publicitárias. Caso o cidadão seja de todo alienado do debate político, torcerá veementemente para voltar logo a programação habitual. O herói passa a ser o apresentador do telejornal, o moralista de plantão, mostrando as “verdades” sobre a política nacional ou internacional. Na verdade, é uma questão de troca de “reis taumaturgos”, como no livro homônimo de Marc Bloch. De fato, tal livro foi concebido bem na época da Escola de Frankfurt e no estudo sobre indústria e a psicologia das massas. Os “reis taumaturgos” são os reis (leia-se políticos) cuja coroação se deu com as bênçãos da Igreja (leia-se mídia, ou seja, o poder do conhecimento e do domínio da informação) e tinham poderes sagrados, como o de curar as escrófulas – doença, associada à tuberculose, comum na época.
Beatles e Tavistock
As ligações da assim conhecida Escola de Frankfurt com o Instituto Tavistock podem ser melhor compreendidas a partir da criação do fenômeno radiofônico dos Beatles. Daniel Estulin, através do acesso à correspondência privada entre EMI (Eletronic and Music Industries Ltd) e Theodor Adorno (ESTULIN, 2006), recontou a história da banda de música “limpa” que subitamente dominou o Ocidente depois de gloriosos anos tocando em prostíbulos impulsionados por drogas variadas. Adorno, levando a cabo experiências sociais cujos objetivos seria o controle das massas, escreveu a maioria das letras da banda inglesa. Adorno seria o cientista sem escrúpulos levando a efeito seus experimentos; Tavistock a organização responsável por reproduzi-los em grande escala no intuito de criar um novo paradigma a ser seguido pela sociedade.
No mesmo ano, 1937, a Fundação Rockeffeler fundou um projeto para estudar os efeitos do Dário na população. Recrutado para o que ficou conhecido como “Radio Research Project”, aquartelado na Universidade de Princeton, estavam seções da Escola de Frankfurt, agora transplantada da Alemanha para a América, assim como indivíduos como Hadley Cantril e Gordon Allport, que se tornaram componentes chave das operações americanas de Tavistock. Encabeçando o projeto estava Paul Lazerfeld, da Escola de Frankfurt; seus diretores assistentes eram Cantril e Allport, junto a Frank Staton, que era o cabeça da divisão da CBS News, depois se tornando seu presidente, assim como chairman do conselho da RAND Corporation.
O projeto foi prefaciado pelo trabalho teórico feito anteriormente nos estudos de propaganda de guerra e psicose, e no trabalho dos operadores da Escola de Frankfurt, Walter Benjamin e Theodor Adorno. Esse trabalho anterior se converteu na tese de que a mídia de massa pode ser usada para induzir estados mentais regressivos, atomizando indivíduos e produzindo crescente sujeição. (Esse condições mentais induzidas foram depois chamadas dentro do próprio Tavistock de estados de “cérebro lavado”, e o processo de o induzir chamado “lavagem cerebral”) (WOLF, 1997).
Se o objetivo da clínica (e depois instituto) era mudar as imagens dos homens, suas letras relatando a experiência do consumo de drogas, principalmente o LSD (Lucy in the Skies with Diamonds), faziam servir a banda inglesa como imã para os festivais regados a alucinógenos tavistockianos e servidos por agentes dos serviços de espionagem. Os Beatles como um fenômeno musical são um marco em nossa cultura. Quão contrastante se dá a comparação caso os coloquemos lado a lado com outras bandas que fizeram parte da mesma “contracultura”. São também cambiantes esses heróis, ao lado de uma pequena elite de “iluminados” rigidamente escolhida pela mídia de plantão e pelos mais variados “especialistas”. Foram tantos os “heróis” mortos por causa de drogas ou que tiveram sua carreira arruinada pela vida desregrada ou que simplesmente desapareceram que fica difícil falar num fenômeno como a contracultura, aparentemente tão abrangente, sem colocar no centro do discurso – sempre – dois ou três nomes preferidos por uma espécie de intelectualidade que os tornou vocabulário fácil de qualquer amante de rock. Podemos entender as mainstream bandas da contracultura como representação dos mesmos grupos de elite que as criaram. O que significa, sempre, poucas referências. Pode ser que nas palavras de um especialista relativamente erudito possam aparecer milhares de bandas completamente desconhecidas dos amantes ou amadores em rock’n roll. Mas serão no máximo cometas, órbitas errantes ao redor dos astros escolhidos por uma cultura que se auto-afirma através de um consenso ignorante e bestial.
As “damas” da TV e os atores “consagrados” atendem a mesma lógica. Depois de velhos – e devidamente batizados –, são colocados em papéis protocolares, exercendo o papel de grandes damas também nas ficções nas quais atuam. No máximo, caso seja uma dama não tão “auto-suficiente” podem se expor mais: papéis relativamente cômicos (não tanto para a “dama” não cair no ridículo) é que lhes basta. De resto, uma manada de atores que se revezam num sucesso completamente alucinante, como numa roda gigante sem controlador. Alguns poucos ganham notoriedade acima da comum (não são esquecidos tão facilmente); são o estoque, a reserva de atores caso haja algum contratempo na execução das peças ficcionais. São também os candidatos que se acotovelam para depois se encontrarem entre os diminutos “atores consagrados”. Mas consagrados por quem?
A lógica da contracultura, das imagens cambiantes, da subversão das imagens que os homens possuem como referência não pode estar fora do mundo político. Mas quem são os políticos respeitados, os verdadeiros chefes-de-Estado? Contracultura talvez possa ser traduzido como o oposto da cultura, ou seja, dos bens imateriais produzidos por uma civilização ao longo do tempo. Bens que só se tornaram imateriais, patrimônio comum de um povo, por sedimentado em sua mais profunda subjetividade. Daí entra a contracultura, ou a contra-insurgência, para transformar as referências nacionais remetendo-as a uma elite iluminada, representação da elite que cria essas imagens.
As elites, é claro, sempre existiram. Não houve o comunismo ou o tribalismo mais subdesenvolvido que não as tenha possuído. No primeiro caso, inclusive, se criou uma “ultra-elite”, talvez bem próxima da que averiguamos aqui quando falamos de TV. Quando se criam tais sistemas primários de comando-subordinação – artificialmente, é lógico, pois baseada numa sociedade inteiramente mais complexa –, se cria um vácuo tremendo entre a elite diminuta e a massa completamente carente de referências com as quais possam estabelecer parâmetros de comparação e posterior superação ou auto-afirmação de si próprios. Os heróis cívicos do nazismo, os oficiais da SS, seus cientistas ilustres e todo contingente de grupamentos cambiáveis na estrutura de poder da Alemanha hitlerista são os precursores de nossos heróis midiáticos. Uma hora oficial nazi; noutra traidor do regime ou simples refugo humano, pronto para ser eliminado. Assim o regime devorava a si próprio, mantendo sua elite como um grande cérebro num corpo propositalmente subnutrido. Assim o regime adicionava novos contingentes à sua horda revolucionária e entorpecia as massas criando oportunidades fictícias de ingresso no status quo. O fenômeno mais recente de criação de “heróis cambiáveis” é sem dúvida a criação do “Grande Olho”, o também nosso Big Brother.
Daí, podemos concluir, que entre os modelos de plantão das ficções televisivas noturnas e os bandos de especialistas nos telejornais diários não há diferença de natureza. Ambos se esforçam por aparentar a virtude que nunca terão. A verdadeira virtude, nas novelas, subjaz principalmente nas damas e nos venerados atores de cabelos grisalhos; no telejornal, no apresentador onipresente, mimeses perfeita da direção jornalística da emissora, de seu “grande olho”, de sua inteligência implacável, como a dos revolucionários do Terror. Entre a base e o topo, somente podemos enxergar as “imagens cambiáveis” propostas pela TV. Mais claramente: a base é o chão de estrelas permutáveis; o topo, o sol imorredouro, intocável.
Qual sistema se encaixa perfeitamente em tal configuração de poder? Somente o sinarquismo ou o nazi-comunismo. Sua elite geneticamente superior (pois não sabemos o que fez esse ou aquele para mereceram alcançar alguma espécie de topo na grade do poder a não ser um talento inato, próprio a uma raça superior) e a base dos servos da gleba, intercambiáveis e partilhando entre si as migalhas vindas do alto. O mesmo sinarquismo ou nazi-comunismo que querem nos impor através dos “organismos globais”, tais como ONU, OTAN, FMI ou ONGs internacionais. A política de crescimento zero dos ambientalistas e dos economistas lacaios do Banco Mundial. A política de desenvolvimento intelectual nulo de nossa imprensa e academia, profundamente comprometidos com os cânones mais retrógrados e perversos. A mesma inteligência “globalista” fundou nosso sistema televisivo e impôs um governo militarista, como o de Stálin, para usar a força, quando necessário. E depois abriram os mercados e desmilitarizaram o poder. Hoje, com a crise internacional, podemos enxergar com mais clareza no que consistiu a “liberdade de mercado” e a “liberdade de imprensa”. Esta justifica as guerras e a opressão criadas por aquela, numa operação dupla, tal como os banqueiros que financiavam os dois lados da guerra mundial e os empresários que em plena Guerra Fria saiam de Wall Street para construir fábricas na URSS (SUTTON, 1976). Quantos soldados americanos morreram por tanques americanos construídos em solo inimigo? Nossos estatísticos talvez ainda não tenham tempo para fazer esse tipo de conta.
Um caso de estudo: Gates e Hitler
Bill Gates interessa ao nosso relato sob dois aspectos. O primeiro é o do sinarquismo, como acima destacado. A fundação de Bill e Melinda Gates, junto a Fundação Rockfeller e outras organizações supostamente filantrópicas, trabalham junto a Monsanto e o agro-cartel internacional para desenvolver sementes geneticamente modificadas. Suas pesquisas com as sementes de arroz, batata, trigo, e outras, visam, aparentemente, desenvolver meios de melhorar a produção agrícola, principalmente africana. Por outro lado, injetam milhões em pesquisas que mantém a propriedade intelectual das mutações produzidas com as próprias firmas que as realizam. Fora o fato de produtos naturais não terem direito à patente na maioria dos países do mundo, o fruto das pesquisas depois é vendido aos agricultores dos países pobres, gerando um ciclo de dependência irreversível para com os produtos das multinacionais.
Não podemos pormenorizar aqui todos os malefícios trazidos pelos transgênicos. Apenas aludimos ao controle internacional exercida por pouquíssimas empresas nesse mercado, tendo a Monsanto como a maior líder: líder nas políticas de fome em qualquer lugar onde se faça presente. Genocídio poderia ser o codinome da Global Food and Agriculture Initiative, administrada pelo Banco Mundial: a política da redução populacional para um mundo sem recursos naturais.
O segundo aspecto, não menos evidente, é o da construção de uma imagem pública que em absoluto corresponde à realidade. Penso não serem desconhecida as histórias de Bill Gates antes da fama, principalmente seus atritos com Steve Jobs e a criação do Windows. Porém, tamanha contenda entre dois “gênios” só seria verdadeira caso se tratassem de seres excepcionais. No caso de Gates existe de tudo, menos honestidade, como tampouco originalidade criativa. A jornalista norte-americana Wendy Goldman Rohm descreve com detalhes escabrosos (na verdade, escabroso não é o relato, bastante refinado, mas o próprio protagonista) as jogadas de mercado do “gênio” do software para alcançar a hegemonia com sua empresa (ROHM, 2001).
Já de posse do sistema de janelas criado pela Apple, Gates prometia mundos e fundos à IBM quanto à conclusão do sistema operacional que estava sendo desenvolvido pela empresa para fazer frente ao DOS. Assim como não ajudou a IBM em seu projeto, se aproveitou das informações privilegiadas da empresa para, junto com seus próprios dados, construir o MS-DOS. Realizado seu intento, saiu da empresa e começou a busca que iria levá-lo ao topo do mercado. Com uma plataforma bastante similar ao do concorrente, o DR-DOS, o empresário iniciou suas práticas de venda predatórias ao associar seu DOS ao Windows. Obrigava aos vendedores a fazer pacotes onde o Windows deveria estar acompanhado do DOS da Microsoft. Caso contrário, aumentaria seus preços (os quais propositadamente eram colocados bem abaixo dos preços de mercado) tornando o produto praticamente inegociável. Mas esta foi apenas a tática inicial.
Querendo ampliar ainda mais sua parcela nas vendas depois da frustrada tentativa de compra do DR-DOS, com o lançamento do Windows 3.0 introduz capciosamente mensagens de erro quando o sistema operacional não funciona com o MS-DOS. Era como que, tal como hoje em determinados produtos, caso não tivéssemos Windows, eles não funcionariam corretamente. Mas a jogada de gênio se deu com o lançamento do Windows 95 e a possibilidade de domínio do sistema de redes. A internet oferecia um amplo mercado nunca antes vislumbrado pelo empresário. Segue daí a derrota incontornável da justiça norte-americana e a estabilização de Bill Gates como “gênio” da informática. O Internet Explorer assumiu a hegemonia nos CPUs, a qual foi duramente contestada nos anos subseqüentes. Ao atrelar o software ao sistema operacional, continuando com as práticas predatórias de vendas de produtos – sob concessões – em preços muito abaixo dos de mercado, legitimou finalmente a Microsoft como gigante do mercado e fez lançar sua imagem pública tal como ainda é vista nos dias de hoje.
É sintomática a afirmativa da autora quando da passagem crucial operada pelo lançamento do Windows 95:
Fazia apenas alguns dias desde que o gigante do software tinha iniciado a fabricação do Windows 95 e Gates assemelhava-se a um misto de entusiasmo e coragem.
– Talvez tenham reparado que fizemos uma boa divulgação do Windows 95 – afirmou. Seria a declaração mais atenuada até então, desde que um procurador da Microsoft havia admitido a um juiz federal, no final do ano anterior: “O Windows é um sucesso”.
No mundo inteiro, jornais apresentaram o produto como matéria de primeira página. Quando o produto de uma empresa – talvez um avanço científico, que não era o caso do Windows 95 – merecia tal destaque nos jornais?
Bem antes de sua disponibilidade no mercado, O Windows 95 parecia receber mais atenção, por parte da imprensa, do que a campanha presidencial de Clinton. E ainda não estava nítido a Joel Klein, que iniciara uma nova sindicância sobre a empresa, se o Windows 95 e o Network da Microsoft seriam uma enterrada na cesta para Bill Gates, com ou sem Shaquille (ROHM, 2001: 257).
O funeral da Netscape estava preparado. Infringindo todas as normas anti-truste, Bill Gates “acoplou” o Internet Explorer ao Windows, minando definitivamente com a concorrência. Foi a cartada final do “gigante” do software.
CONCLUSÃO
Procuramos mostrar nesse texto, da forma mais sucinta possível, as ligações da CIA, Escola de Frankfurt e o Instituto Tavistock na fabricação nos modelos de manipulação de massas, principalmente através de estudos de engenharia social. É claro que o tema é controverso. Na opinião de quem agora vos escreve, por vezes o autor do livro que usamos como base de análise, é algo unilateral em algumas de suas observações, principalmente no que diz respeito a certos autores em particular. Caso pesquisarmos o histórico dos estudos já feitos sobre esse Instituto, veremos não só Walter Benjamin, Adorno e Freud sendo duramente criticados. Jung, Georg Wells, Huxley, entre outros, igualmente aparecem nesse cenário.
Acredito que para dar conta da responsabilidade individual de cada um desses autores, precisamos de um estudo mais aprofundado. Não resta dúvida que participaram de todos esses projetos que depois se tornaram os modelos de manipulação midiática. O que, por vezes, fica difícil de apreciar, é o nível de consciência desses personagens durante a criação daquela monstruosidade. Para não reduzir nossa análise a termos “tavistokianos”, penso que maiores nuances podem ser traçadas nesse estudo, aqui e acolá.
Acima de tudo, a importância do livro de Daniel Estulin (que talvez seja o mais sintético e abrangente, porém só pioneiro na medida em que aporta nova documentação) é a de se identificar uma origem histórica determinada para a elaboração de conceitos a muito estudados pelas ciências sociais, e também identificar toda a “teoria social” que a partir de então se desenvolveu. Nesse sentido, a delimitação sobre o que é o Instituto Tavistock é extremamente precisa – e preciosa.
ROGÉRIO REIS CARVALHO MATTOS | professor e tradutor da revista Executive Intelligence Review. Formado em História, mestre em Letras pela UERJ e doutorando em Filosofia pela mesma faculdade. Mantém o site http://www.oabertinho.com.br, onde publica alguns de seus escritos.
BIBLIOGRAFIA
ESTULIN, Daniel. El Instituo Tavistock. Barcelona: Ediciones B, Barcelona, 2011.
ESTULIN, Daniel. Los secretos del Club Bilderberg. Barcelona: Editorial Planeta, 2006.
FERGUSON, Marilyn. A Conspiração Aquariana. Rio de Janeiro: Editora Nova Era, 2006.
ROHM, Wendy Goldman. “O caso Microsoft: a história secreta de como Bill Gates construiu seu império”. São Paulo: Geração Editorial, 2001.
SUTTON, Anthony. “Wall Street and the rise of Hitler”. Nova Iorque: Buccaneer Books, 1976.
WOLFE, Lonnie. “Brainwashing: How The British Use The Media for Mass Psychological Warfare”. The American Almanac, 5 de maio de 1997.
WOLFE, Lonnie. “Turn off your TV”. New Federalist, 28 de agosto de 2007.

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